domingo, junho 15, 2008

OS DEMÔNIOS E A PALAVRA

"No hiduísmo, os demônios são designados pelo nome de asuras, isto é, SERES DESPROVIDOS DE PALAVRAS" (Olavo de Carvalho, em seus comentários a "Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão", de Arthur Schopenhauer. A maiusculação é minha).
A esse dito podemos acrescentar outro, de Joseph Campbell, cuja referência completa,no momento, não tenho em mãos.": "Um demônio é um anjo que não foi escutado".

quinta-feira, abril 17, 2008

APEDEUTOCRACIA

Aristóteles era ótimo,listava três tipos de regime, dizendo que todos eles podiam ser bons ou "pervertidos":

1. A monarquia, cuja forma pervertida era a tirania;
2. A aristocracia, cuja forma pervertida era a oligarquia; e
3. A democracia, cuja forma pervertida era a apedeutocracia (a idéia da perversão
da democracia ser a tomada do poder pelos incompetentes para governar é dele, o neologismo é meu).

Bom demais, não?

Quem estuda a história de Roma, sabe que versão de que a monarquia etrusca foi deposta para a instalação da republica é a "maquiagem" de uma realidade que seria melhor descrita se disséssemos que: uma MONARQUIA REPUBLICANA (que considerava o povo um conjunto de CIDADÃOS), foi substituída por uma OLIGARQUIA DITATORIAL (que, compreensivelmente, se autonomeava república, e que considerava o povo um conjunto de SÚDITOS, entenda-se, "sub-ditos", entenda-se, "ditados" pelos "ditadores").

A única superioridade da forma pervertida da democracia sobre a forma pervertida da
monarquia e da aristocracia é QUANTITATIVA: no seu caso, os ditadores são muitos e os "ditados" são poucos.

(Aliás, nossas oligarquias merecem estar sendo vítimas dos apedeutas, elas trataram de garantir, ao longo de nossa história, que eles se multiplicassem...)

quarta-feira, abril 09, 2008

SAÚDE MENTAL HUMANA

SAÚDE MENTAL HUMANA = "capacidade de, mediante a interação harmônica de intenções passíveis de serem verbalmente representadas, orientar o próprio comportamento de forma a, dentro das limitações impostas pelo meio ambiente, obter o máximo possível de prazer e de funcionalidade."

sexta-feira, março 28, 2008

A IDENTIDADE "BRASILEIRA"

Perguntaram-me sobre o que eu acho sobre a identidade dos brasileiros. Respondi o que segue:

"A minha conjectura é a de que, infelizmente,

CONTINUAMOS "BRASILEIROS".

É o que eram os "brasileiros"? Eram os estrangeiros que vinham para estas terras para depredá-las, pondo abaixo o pau-brasil, para vendê-lo na Europa, enricar, e ficar lá, ou voltar apenas para depredar outra vez.
Como legítimos "brasileiros", sugamos as riquezas desta terra e, em vez de, enricados, doar o resultado disso, como fazem os estadunidenses, para universidades, fundações, museus etc., depositamos o resultado disso em paraísos fiscais...
E por que isso?
Porque nossa "Independência" não foi um ato de ruptura sangrenta, como ocorreu nos EUA, com os representantes da metrópole que nos dominava.
Foi, com o grito do Ipiranga, uma mera "internalização" dessa camarilha, que continuou a mesma, a mandar igual e impor tributos ao restante da população colonizada que, antes colonizada "de fora", passou a sê-lo "de dentro". Ou será por outra razão que o Banco Mundial sinaliza o Brasil como apresentando a mais injusta distribuição de renda do planeta?
Nossas elites continuam sendo "brasileiras", no sentido de serem estrangeiros que pretendem depredar o país e voltar para a Europa.
Os prédios mais vazios de Ipanema estão na Vieira Souto: os colonizadores estão nas "metrópoles", só vêm aqui de passagem.
Freqüentes vezes, vi mais amor por esta terra em imigrantes que "vieram para ficar" do que em "brasileiros", que parecem estar aqui de passagem, pensando e sentindo que suas verdadeiras pátrias estão lá fora.
Isso atinge nossa relação com a lei. O que existe de mais patriótico, para um colonizado, do que burlar a lei que representa os interesses da metrópole? O que mais patriótico do que revoltar-se, como os estadunidenses, contra o imposto imposto sobre o chá? O que mais patriótico do que esculpir "santos de pau oco" para "passar a perna" na metrópole que nos impunha o quinto do ouro?
Só que os ingleses foram expulsos dos EUA, e, expulsos eles, deixou de ser patriótico burlar a lei, já que, a partir de então, essa lei era a dos donos
do novo estado. Aqui? Aqui, nossa "independência" foi patrocinada pelos colonizadores e por seus comparsas, continuando a ser "patriótico" burlar a lei, que, "de dentro", continuava a sugar tanto os nativos, quanto, antes, sugara "de fora".
As camarilhas governamentais que, ainda hoje, impõe absurda carga fiscal sobre os que trabalham em nosso país, não passam de "colonizadores internalizados", e se, inconscientemente que seja, continuamos a nos sentir colonizados, continuamos com a maior naturalidade a burlar a lei, que não vemos como feita por nós nem para nós, empregando nossa criatividade para produzir todas as variações de "santos de pau oco" que nosso contexto atual permite inventar. Essa leniência relativamente ao descumprimento da lei termina por desservir aqueles mesmos que as descumprem.
Precisamos de uma guerra de independência 'sui generis': uma guerra de independência contra os "colonizadores internalizados" que governam este país. Uma forma de fazer isso são atos de "desobediência civil", como a recusa de pagar IPTU efetivada por algumas comunidades do Rio de Janeiro.
Ganha essa guerra, aí sim, poderemos ter uma identidade, não de colonizados, mas de cidadãos.

A SATANIZAÇÃO DO CAPITAL

A última mensagem que recebi, tentando "satanizar" o capital, dizia, entre outras coisas, o seguinte:

"OS CAPITAIS, QUE ADORAM CRESCER SEM FAZER FORÇA"...

Estou de acordo com Eric Maskin, último prêmio Nobel de Economia, que insiste que os que trabalham com essa ciência deveriam entender um pouco mais de Psicologia.
Pensemos um pouco: qual o ser vivo, ou grupo deles, humanos ou não, que NÃO GOSTA de "crescer sem fazer força"? Só o capital? Ridículo. E, se o contexto internacional permite que se cresça sem fazer força, qual a boa razão para que, para crescer, força seja feita?
Aposto que, quem escreveu isso, não tem capital. Caso tivesse, estaria, em vez de reclamando, ganhando dinheiro sem fazer força.
Nada como um pouco de Psicologia acoplada à Economia.
Com efeito, como vulgarmente se diz, inveja é uma merda.

sexta-feira, março 07, 2008

ESQUERDAS E DIREITAS

Quando fiz algumas observações sobre a recente auto-defenestração oficial de Castro - e como castrou! - ouvi de um interlocutor: "Uma das maiores figuras do último século!"
Respondi: "Estou de absoluto acordo. Ele lembra-me, inclusive, algumas "grandes mães" que com quem lidei em meu labor clínico (sou psicanalista). Elas mantêm seus filhos eternamente juntos a suas saias (nada de ir para Maiami ou para as prais e hotéis freqüentados pelos gringos), pensando e decidindo por eles o que é "melhor" para eles, dizendo a que trabalho devem dedicar-se e com quem devem casar, e, como a de um de meus pacientes, entrando porta a dentro no quarto do filho, na noite de Lua-de-Mel, para saber se "estava tudo indo bem".

Com efeito, se, como disse Millôr, "toda super-mãe cria infra-filhos", cabe parafraseá-lo dizendo que "todo super-estado cria infra-cidadãos"!

O "pecado" das esquerdas - como o das "direitas" - não é econômico, é psicológico: as primeiras têm por objetivo manter no berço e amamentar quem já poderia estar no mercado, enfrentando riscos em busca do lucro, e as segundas o de tratar como adultos capazes competir mesmo aqueles que a quem a sociedade ainda não deu as condições mínimas para que possam fazê-lo.

Políticas de esquerda ou de direita não deveriam ser "premissas" ou "princípios". Deviam ser "estratégias", ambas igualmente válidas, a serem aplicadas segundo exigências conjunturais.

Quando me perguntam se sou de esquerda ou de direita, respondo que sou inteligente.

segunda-feira, março 03, 2008

QUEIJOS E VINHOS...

Em uma sofisticada degustação de queijos e vinhos, um dos comensais, sabendo ser eu psicanalista, provocou-me: "Esse negócio de psicanálise é frescura!"
Pareceu não ter gostado de minha réplica: "Champanhe francesa também. Por que você está aqui e não no bar em frente, tomando uma cachaça vagabunda? Ou você resolveu aplicar a sua vida um critério menos exigente do que aplica ao que bebe?"

sábado, fevereiro 23, 2008

PENSAMENTO ANIMAL E PENSAMENTO HUMANO

Inútil ter acesso aos mais relevantes e precisos dados, se é ruim a qualidade da teoria com a qual se os vai trabalhar. Há uma piadinha que retrata isso de modo bem caricato:

PEDRO – “Caramba, você sabe estar estatisticamente comprovado que 30% por cento dos acidentes de trânsito ocorrem em virtude de o motorista estar alcoolizado!”
PAULO – “Caramba mesmo! Não tinha idéia de que 70% dos acidentes pudessem ser causados pela FALTA DE ÁLCOOL!”

Pois é. Não há input de dados, por relevantes e corretos que sejam, que resista a um sofware ruim.
Os dados sobre o pensamento animal trazidos pelo artigo “Mentes que Brilham”, publicado na revista National Geographic (Brasil) correspondente a março deste ano são indiscutivelmente relevantes e supõe-se estarem corretos, mas o software com o qual se os trabalha merece significativos reparos, sem os quais se podem concluir barbaridades análogas à de que não beber causa acidentes de tráfego.
Esses reparos voltam-se principalmente sobre a má conceituação de cognição, pensamento (animal e humano) e inteligência – e passo a alinhá-los, embora não pretenda aprofundar esta discussão aqui. Na página 36 da revista, lê-se:

“De que modo, então, um cientista prova que um animal tem capacidade de pensar – ou seja, que ele é capaz de obter informações a respeito do mundo e agir em função disso?” (grifo meu)

Começamos mal. Se uma planta, ao crescer, se inclina para oeste porque, onde se encontra, o vento bate naquele sentido, o processo é meramente mecânico; mas se, na ausência de tal agente externo, ela se orienta para oeste porque, sendo fototrópica, é dali que recebe mais luz, então sim, ela “obteve informações a respeito do mundo e agiu em função disso”, o que supõe presença de “cognição”, mas, convenhamos, não de “pensamento”. Poderíamos dizer que essa planta “cognosceu” – como “cognosce” nossa medula ao responder com o reflexo patelar a uma pequena martelada no joelho – mas acho difícil encontrar alguém disposto a sustentar que ela – e tampouco a medula – “pensaram”. E por quê?
Porque, para haver “pensamento”, não basta ser capaz de registrar uma informação e ser capaz de reagir a ela. Para haver pensamento, é necessário que, a partir de informações previamente registradas (= “cognoscidas”), se produza informação nova, seja a partir de inferência (“se X, então Y”), seja a partir da criatividade.
Para o contexto do artigo, vale também lembrar que o adjetivo “inteligente” pode ser empregado em um sentido lato, em que coincide com “capaz de pensar” e em um sentido estrito, quando coincide com “capaz de pensar bem”, ou seja, de forma a servir adequadamente às tarefas a que se aplica o pensar.
Por último, sustento que nenhum cotejamento entre o pensamento humano e o animal poderá ser bem sucedido enquanto, como faz o artigo em pauta, se procurarem semelhanças e diferenças entre ambos em aspectos como capacidade ou não de simbolizar, de generalizar, de inferir, de criar etc..
A única diferença fundamental entre ambos está em que apenas o primeiro é capaz de voltar-se sobre si mesmo e pensar sobre o pensamento, tentando analisar sua própria natureza e desenvolver os critérios que distinguem o bom do mau pensar.
No dia em que um animal ultrapassar essa barreira, terá deixado de sê-lo.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

ECONOMIA POLÍTICA: DEFINIÇÃO.

Não satisfeito com as definições de Economia Política com que me defrontei, sugiro o seguinte, ficando a espera de críticas e sugestões. Se podemos definir:

1) FATO ECONÔMICO como "todo aquele que diz respeito à produção, distribuição e consumo de valores sujeitos à escassez"; e

2) FATO POLÍTICO como "todo aquele que diz respeito a relações de poder"; então

3) ECONOMIA POLÍTICA pode ser definida como "a ciência que se ocupa das interrelações entre, por um lado, as relações de poder e, por outro, a produção, distribuição e consumo de valores sujeitos à escassez".