sexta-feira, janeiro 19, 2007

A ÉTICA DOS FINS E DOS MEIOS

É tão perigoso se estabelecer que um determinado comportamento é sempre ruim ou sempre bom, quanto se acreditar que perder a Rainha, em um jogo de xadrez, é sempre ruim e preservá-la, sempre bom. Por vezes, tal sacrifício permite nos dar cheque-mate no adversário, o que, isso sim, é sempre bom, tanto quanto sofrê-lo é sempre mau.
Em minha ética, somente algo é sempre bom - a preservação da vida - e somente algo é sempre mau - a destruição dela - ficando todos os demais valores dependentes do quanto promovam um ou outro daqueles valores fundamentais. Assim, se bem que, por exemplo, corrupção e mentira sejam, EM GERAL, anti-éticas, vale pensar sobre as seguintes questões:

Se um oficial nazista corrupto aceitasse cinco charutos cubanos para não jogar uma criança judia na câmara de gás, o eticamente correto seria reagir dizendo "Nunca! Sou incorruptível! Jogue essa criança na câmara de gás!" ?
Se agentes de uma ditadura nos interrogassem para obter informações passíveis de facilitar a eliminação pessoas que lutam pela liberdade, o eticamente correto seria falar a verdade, não mentir?

Tais considerações levam-me à seguinte conclusão, que reputo seminal: a pergunta de se os fins justificam os meios é tão estúpida, quanto a de se o ser humano é ou não tuberculoso. Alguns são tuberculosos; outros, não. Da mesma forma, alguns fins justificam alguns meios; outros, não.

A principal falha ética que pode ser cometida por um ser POTENCIALMENTE humano é a de NÃO TORNAR-SE humano. E, após haver provado do fruto da "Árvore da Ciência do Bem e do Mal", essa falha ocorre quando ele deixa de REFLETIR e DECIDIR, agindo como um autômato, mentindo AUTOMATICAMENTE, falando a verdade AUTOMATICAMENTE (falha que estou tentando trazer à baila), corrompendo AUTOMATICAMENTE ou negando-se AUTOMATICAMENTE a corromper etc., etc..

Na verdade, seres POTENCIALMENTE humanos que agem como AUTÔMATOS, não podem ser anti-éticos, pois não chegaram sequer a ingressar no domínio da ética, são simplesmente PRÉ-ÉTICOS.