É tão perigoso se estabelecer que um determinado comportamento é sempre ruim ou sempre bom, quanto se acreditar que perder a Rainha, em um jogo de xadrez, é sempre ruim e preservá-la, sempre bom. Por vezes, tal sacrifício permite nos dar cheque-mate no adversário, o que, isso sim, é sempre bom, tanto quanto sofrê-lo é sempre mau.
Em minha ética, somente algo é sempre bom - a preservação da vida - e somente algo é sempre mau - a destruição dela - ficando todos os demais valores dependentes do quanto promovam um ou outro daqueles valores fundamentais. Assim, se bem que, por exemplo, corrupção e mentira sejam, EM GERAL, anti-éticas, vale pensar sobre as seguintes questões:
Se um oficial nazista corrupto aceitasse cinco charutos cubanos para não jogar uma criança judia na câmara de gás, o eticamente correto seria reagir dizendo "Nunca! Sou incorruptível! Jogue essa criança na câmara de gás!" ?
Se agentes de uma ditadura nos interrogassem para obter informações passíveis de facilitar a eliminação pessoas que lutam pela liberdade, o eticamente correto seria falar a verdade, não mentir?
Tais considerações levam-me à seguinte conclusão, que reputo seminal: a pergunta de se os fins justificam os meios é tão estúpida, quanto a de se o ser humano é ou não tuberculoso. Alguns são tuberculosos; outros, não. Da mesma forma, alguns fins justificam alguns meios; outros, não.
A principal falha ética que pode ser cometida por um ser POTENCIALMENTE humano é a de NÃO TORNAR-SE humano. E, após haver provado do fruto da "Árvore da Ciência do Bem e do Mal", essa falha ocorre quando ele deixa de REFLETIR e DECIDIR, agindo como um autômato, mentindo AUTOMATICAMENTE, falando a verdade AUTOMATICAMENTE (falha que estou tentando trazer à baila), corrompendo AUTOMATICAMENTE ou negando-se AUTOMATICAMENTE a corromper etc., etc..
Na verdade, seres POTENCIALMENTE humanos que agem como AUTÔMATOS, não podem ser anti-éticos, pois não chegaram sequer a ingressar no domínio da ética, são simplesmente PRÉ-ÉTICOS.
sexta-feira, janeiro 19, 2007
sábado, novembro 04, 2006
FREUD, NIETZSCHE E O ÜBERMENSCH
O termo “repressão” é ora empregado com o sentido de “recalque”, a impossibilidade de DIZER algo, ora com o sentido de “retenção”, a impossibilidade de FAZER algo. Ao afirmar que sua natureza –
“não sabe separar DIZER NÃO À AÇÃO de DIZER SIM À PALAVRA” (“Ecce Homo”. Harmondsworth, England: 1985, p. 80; destaques meus)
Nietzsche sinaliza com clareza que o Macht – poder – desejado pelo Übermensch – o ser humano superior[1] – é o de ELIMINAR O RECALQUE, MANTENDO A [possibilidade de] RETENÇÃO
.
Com efeito, sua obra repete cansativamente que Übermensch é aquele que tem suficiente coragem para verbalizar ( = eliminar o recalque ) todos os aspectos da existência –
“toda a existência aqui [na proposta de zarathustra] deseja TORNAR-SE PALAVRA” (ibid., p. 103; destaque meus)
– permitindo a entrada na consciência de tudo que, até sua chegada, ficou escondido –
“uma afirmação sem reservas mesmo do sofrimento, mesmo da culpa, mesmo de tudo que é estranho e questionável na existência” (ibid., p. 80)
– sob uma visão idealizada do homem –
“tendo na mão uma tocha cuja luz não treme, eu ilumino com um brilho cortante o submundo do ideal.” (ibid., p. 89)
Essa proposta implica uma Umwertung aller Werte – uma transmutação de todos os valores – pois passa a considerar o patológico – a possibilidade de colocação de todo e qualquer pathos no logos – como característica da saúde e não, da doença.
Já a luz da tocha de Freud por vezes treme e ele, nesses momentos, coloca a ELIMINAÇÃO DA RETENÇÃO, NÃO DO RECALQUE, como o objetivo humano, cometendo, inclusive, em “Psicologia das Massas e Análise do Ego” (1921), a asnice de confundir o sofisticadíssimo Übermensch nietzschiano com as medulas ambulantes que teriam sido os chefes das hordas primitivas e que, segundo sua visão, FAZIAM o que queriam, sem ter limites que os contivessem.
Toda vez que se entender que o poder visado pelo homem superior de Nietzsche é o poder de tudo FAZER , em vez de poder de tudo FALAR, vai-se tirar a descabida conclusão de que a obra desse grande pensador, que abominava a truculência germânica, presta-se a fornecer fundamento ideológico para o nazismo.
[1] Traduzir “Übermensh” por “super-homem” parece-me absolutamente catastrófico. Primeiro, perde-se referência ao fato de que, em alemão, “der Mensch” é “o ser humano”, englobando o homem e a mulher (“der Mann” é o termo que ser refere especificamente ao ser humano masculino); segundo, a aura associativa de “super-homem” aponta mais para um ferrabrás hollywoodiano do que para alguém que atingiu os cumes da possibilidade de desenvolvimento humano.
“não sabe separar DIZER NÃO À AÇÃO de DIZER SIM À PALAVRA” (“Ecce Homo”. Harmondsworth, England: 1985, p. 80; destaques meus)
Nietzsche sinaliza com clareza que o Macht – poder – desejado pelo Übermensch – o ser humano superior[1] – é o de ELIMINAR O RECALQUE, MANTENDO A [possibilidade de] RETENÇÃO
.
Com efeito, sua obra repete cansativamente que Übermensch é aquele que tem suficiente coragem para verbalizar ( = eliminar o recalque ) todos os aspectos da existência –
“toda a existência aqui [na proposta de zarathustra] deseja TORNAR-SE PALAVRA” (ibid., p. 103; destaque meus)
– permitindo a entrada na consciência de tudo que, até sua chegada, ficou escondido –
“uma afirmação sem reservas mesmo do sofrimento, mesmo da culpa, mesmo de tudo que é estranho e questionável na existência” (ibid., p. 80)
– sob uma visão idealizada do homem –
“tendo na mão uma tocha cuja luz não treme, eu ilumino com um brilho cortante o submundo do ideal.” (ibid., p. 89)
Essa proposta implica uma Umwertung aller Werte – uma transmutação de todos os valores – pois passa a considerar o patológico – a possibilidade de colocação de todo e qualquer pathos no logos – como característica da saúde e não, da doença.
Já a luz da tocha de Freud por vezes treme e ele, nesses momentos, coloca a ELIMINAÇÃO DA RETENÇÃO, NÃO DO RECALQUE, como o objetivo humano, cometendo, inclusive, em “Psicologia das Massas e Análise do Ego” (1921), a asnice de confundir o sofisticadíssimo Übermensch nietzschiano com as medulas ambulantes que teriam sido os chefes das hordas primitivas e que, segundo sua visão, FAZIAM o que queriam, sem ter limites que os contivessem.
Toda vez que se entender que o poder visado pelo homem superior de Nietzsche é o poder de tudo FAZER , em vez de poder de tudo FALAR, vai-se tirar a descabida conclusão de que a obra desse grande pensador, que abominava a truculência germânica, presta-se a fornecer fundamento ideológico para o nazismo.
[1] Traduzir “Übermensh” por “super-homem” parece-me absolutamente catastrófico. Primeiro, perde-se referência ao fato de que, em alemão, “der Mensch” é “o ser humano”, englobando o homem e a mulher (“der Mann” é o termo que ser refere especificamente ao ser humano masculino); segundo, a aura associativa de “super-homem” aponta mais para um ferrabrás hollywoodiano do que para alguém que atingiu os cumes da possibilidade de desenvolvimento humano.
segunda-feira, setembro 25, 2006
CITAÇÕES PREFERIDAS VII
"A tarefa da democracia não é garantir que os melhores ascenderão ao poder, é impedir que os piores se perpetuem nele." (Karl Popper)
CITAÇÕES PREFERIDAS VI
"O que mais preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-caráter, dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King)
sexta-feira, setembro 15, 2006
NOTA SOBRE O LULISMO
Mandaram-me um imeil dizendo que quem se importa com os pobres, como os católicos, deve votar no Lula. Quero comentar isso.
O sucesso de um programa social não é medido por quantas pessoas ENTRAM nele, mas por quantas SAEM dele. A política econômica do Lula é uma verdadeira catástrofe (estou dizendo que é uma CATÁSTROFE, não estou dizendo que ela é MAL INTENCIONADA), que vai, a médio prazo, fazer que cada vez mais pessoas ENTREM em programas sociais e cada vez menos SAIAM deles. O que essa política econômica tem de bom – o controle da inflação – não passa de uma CÓPIA descarada da política de FCH, que também já não era nenhuma glória, porque se sustentou à custa de juros altos e não de um vigoroso corte de gastos públicos. Um dos lados mais catastróficos da política econômica do Lula é a confusão que ele faz entre ele mesmo e o Mercosul, fantasiando que essa união de nanicos pode ter trajetória tão gloriosa quanto a dele, desafiando com sucesso países ricos (e, portanto, MAUS) e poderosos. O resultado disso está sendo que Uruguai, Paraguay etc. estão começando a atropelar a megalomania lulista e a fazer acordos bilaterais com os membros do G-8, comprando deles O QUE ANTERIORMENTE COMPRAVAM DE NÓS e vendendo a eles O QUE ANTERIORMENTE LHES VENDIAMOS NÓS. Essa política é tão estúpida que algumas de nossas industrias têxteis já estão considerando transferir-se para o Chile, Uruguay, Paraguay etc. PARA PODER CONTINUAR A VENDER! O que, no Brasil, irá gerar desemprego e queda da receita fiscal, permitindo que Lula e seus bondosos católicos tenham MAIS POBRES para ENTRAR em seus programas sociais, cuja cesta básica TAMBÉM FICARÁ MAIS POBRE, até que cada família-mendigo tenha mensalmente direito a três grãos de arroz e dois de feijão...
Em tempo: Votei no Lula na última eleição e jamais fiquei tão realizado com meu voto. E disse aos que me perguntaram o porquê: "Porque a única forma de arrancar a fantasia de santidade do PT é sentar o rabo do Lula na cadeira de presidente".
Eu poderia estar mais satisfeito?
O sucesso de um programa social não é medido por quantas pessoas ENTRAM nele, mas por quantas SAEM dele. A política econômica do Lula é uma verdadeira catástrofe (estou dizendo que é uma CATÁSTROFE, não estou dizendo que ela é MAL INTENCIONADA), que vai, a médio prazo, fazer que cada vez mais pessoas ENTREM em programas sociais e cada vez menos SAIAM deles. O que essa política econômica tem de bom – o controle da inflação – não passa de uma CÓPIA descarada da política de FCH, que também já não era nenhuma glória, porque se sustentou à custa de juros altos e não de um vigoroso corte de gastos públicos. Um dos lados mais catastróficos da política econômica do Lula é a confusão que ele faz entre ele mesmo e o Mercosul, fantasiando que essa união de nanicos pode ter trajetória tão gloriosa quanto a dele, desafiando com sucesso países ricos (e, portanto, MAUS) e poderosos. O resultado disso está sendo que Uruguai, Paraguay etc. estão começando a atropelar a megalomania lulista e a fazer acordos bilaterais com os membros do G-8, comprando deles O QUE ANTERIORMENTE COMPRAVAM DE NÓS e vendendo a eles O QUE ANTERIORMENTE LHES VENDIAMOS NÓS. Essa política é tão estúpida que algumas de nossas industrias têxteis já estão considerando transferir-se para o Chile, Uruguay, Paraguay etc. PARA PODER CONTINUAR A VENDER! O que, no Brasil, irá gerar desemprego e queda da receita fiscal, permitindo que Lula e seus bondosos católicos tenham MAIS POBRES para ENTRAR em seus programas sociais, cuja cesta básica TAMBÉM FICARÁ MAIS POBRE, até que cada família-mendigo tenha mensalmente direito a três grãos de arroz e dois de feijão...
Em tempo: Votei no Lula na última eleição e jamais fiquei tão realizado com meu voto. E disse aos que me perguntaram o porquê: "Porque a única forma de arrancar a fantasia de santidade do PT é sentar o rabo do Lula na cadeira de presidente".
Eu poderia estar mais satisfeito?
terça-feira, agosto 01, 2006
CITAÇÕES PREFERIDAS V
"COM LAMENTÁVEL FREQÜÊNCIA, UMA INSTITUIÇÃO NÃO PASSA DE UMA INFLAMAÇÃO QUE SE DESENVOLVE EM TORNO DE UMA IDÉIA PARA ACABAR COM ELA" (Luís César Ebraico)
segunda-feira, junho 26, 2006
CITAÇÕES PREFERIDAS IV
"Dentro de qualquer abismo ainda trago comigo a benção de minha auto-afirmação." (Nietzsche)
CITAÇÕES PREFERIDAS III
"A crítica arrancou as flores que enfeitavam os grilhões não para que o homem os carregue sem esperança ou consolo, mas para que os rompa e se aposse da flor viva." (Karl Marx)
CITAÇÕES PREFERIDAS II
"O que se concebe bem
Se enuncia claramente
E as palavras para dizê-lo
Vêm facilmente." (Boileau)
Se enuncia claramente
E as palavras para dizê-lo
Vêm facilmente." (Boileau)
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