sexta-feira, março 28, 2008

A IDENTIDADE "BRASILEIRA"

Perguntaram-me sobre o que eu acho sobre a identidade dos brasileiros. Respondi o que segue:

"A minha conjectura é a de que, infelizmente,

CONTINUAMOS "BRASILEIROS".

É o que eram os "brasileiros"? Eram os estrangeiros que vinham para estas terras para depredá-las, pondo abaixo o pau-brasil, para vendê-lo na Europa, enricar, e ficar lá, ou voltar apenas para depredar outra vez.
Como legítimos "brasileiros", sugamos as riquezas desta terra e, em vez de, enricados, doar o resultado disso, como fazem os estadunidenses, para universidades, fundações, museus etc., depositamos o resultado disso em paraísos fiscais...
E por que isso?
Porque nossa "Independência" não foi um ato de ruptura sangrenta, como ocorreu nos EUA, com os representantes da metrópole que nos dominava.
Foi, com o grito do Ipiranga, uma mera "internalização" dessa camarilha, que continuou a mesma, a mandar igual e impor tributos ao restante da população colonizada que, antes colonizada "de fora", passou a sê-lo "de dentro". Ou será por outra razão que o Banco Mundial sinaliza o Brasil como apresentando a mais injusta distribuição de renda do planeta?
Nossas elites continuam sendo "brasileiras", no sentido de serem estrangeiros que pretendem depredar o país e voltar para a Europa.
Os prédios mais vazios de Ipanema estão na Vieira Souto: os colonizadores estão nas "metrópoles", só vêm aqui de passagem.
Freqüentes vezes, vi mais amor por esta terra em imigrantes que "vieram para ficar" do que em "brasileiros", que parecem estar aqui de passagem, pensando e sentindo que suas verdadeiras pátrias estão lá fora.
Isso atinge nossa relação com a lei. O que existe de mais patriótico, para um colonizado, do que burlar a lei que representa os interesses da metrópole? O que mais patriótico do que revoltar-se, como os estadunidenses, contra o imposto imposto sobre o chá? O que mais patriótico do que esculpir "santos de pau oco" para "passar a perna" na metrópole que nos impunha o quinto do ouro?
Só que os ingleses foram expulsos dos EUA, e, expulsos eles, deixou de ser patriótico burlar a lei, já que, a partir de então, essa lei era a dos donos
do novo estado. Aqui? Aqui, nossa "independência" foi patrocinada pelos colonizadores e por seus comparsas, continuando a ser "patriótico" burlar a lei, que, "de dentro", continuava a sugar tanto os nativos, quanto, antes, sugara "de fora".
As camarilhas governamentais que, ainda hoje, impõe absurda carga fiscal sobre os que trabalham em nosso país, não passam de "colonizadores internalizados", e se, inconscientemente que seja, continuamos a nos sentir colonizados, continuamos com a maior naturalidade a burlar a lei, que não vemos como feita por nós nem para nós, empregando nossa criatividade para produzir todas as variações de "santos de pau oco" que nosso contexto atual permite inventar. Essa leniência relativamente ao descumprimento da lei termina por desservir aqueles mesmos que as descumprem.
Precisamos de uma guerra de independência 'sui generis': uma guerra de independência contra os "colonizadores internalizados" que governam este país. Uma forma de fazer isso são atos de "desobediência civil", como a recusa de pagar IPTU efetivada por algumas comunidades do Rio de Janeiro.
Ganha essa guerra, aí sim, poderemos ter uma identidade, não de colonizados, mas de cidadãos.

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