domingo, janeiro 01, 2012

OS BRASILEIROS, A MORAL E A LEI

Antes da Independência, os brasileiros, inteligentemente, roubavam os portugueses e infringiam suas leis;  depois dela, estupidamente, roubam uns aos outros e infringem suas próprias leis...  E mandam o fruto do roubo para fora daqui, como faziam os portugueses...  Essa estupidez - aliás, como a maior parte delas - é psicologicamente explicável. 

A independência do Brasil não foi CONQUISTADA pelos brasileiros, foi OUTORGADA a nós.  E por quem nos colonizava, um imperador português, que, após a tal "indepedência", continuou plácida e confortavelmente assentado no poder, assim como a maior parte de sua camarilha, aplicando, travestida de brasileira e algo maquiada, uma legislação de origem essencialmente portuguesa. 

Dava para PERCEBER que havia ocorrido uma Independência?  Ou melhor, havia ela, de fato, ocorrido? 

Fica a impressão de que somente INTERNALIZAMOS OS COLONIZADORES, ao invés de defenestrá-los;  de que os privilégios – incluídas as imunidades – dos aristocratas hereditários portugueses, foram, simplesmente repassados um funcionalismo estatal absurdamente inchado, que, eleito ou nomeado, maneja leis que protegem mais a ele do que ao restante da população, para a qual sobram migalhas (que, aliás, num país tão rico, não são tão migalhas assim, o que favorece a pasmaceira geral).  Assim, enquanto, durante o domínio português, os aristocratas impunham o "quinto do ouro" e a população defendia-se com "santos de pau oco", a "nomenklatura" brasileira atual, para sustentar a si e a seu irrefreável nepotismo, impõe ao povo uma assombrosa carga fiscal (= quinto do ouro), contra o qual esse último reage com uma evasão fiscal (= santo de pau oco) não menos assombrosa.   De um lado, opressores;  do outro, infratores da Lei, que não reconhecem como deles. Como diriam os romanos:  non nova, sed novae.  Nada de novo, apenas de outra maneira...

Logo em seguida à independência da República Tcheca, cuja ruptura com a União Soviética, com a Rússia e com a Iugoslávia foi algo marcante, não diluída como foi a nossa, ouvimos Vaclav Hazel, o primeiro presidente dessa nova república, proclamar:  "Doravante, tudo deverá ser feito de acordo com a lei!"

E por que SÓ DALI PARA FRENTE a lei deveria ser obedecida?  Simples e óbvio:  porque, a partir daquele momento, as leis eram dos tchecos, feitas pelos tchecos, para servir aos tchecos, não mais dos soviéticos, feitas pelos soviéticos, para servir aos soviéticos.  ANTES, O PATRIÓTICO ERA DESOBEDECER À LEI!

Bem, se, no Brasil, parte significativa da Lei continua a servir aos poderosos, representando o câncer de um colonialismo internalizado, não admira que, confusa, sem saber se é dona ou não do próprio país, a população, quase que como por inércia, continue a prática do roubo e da infração que soube tão aplicar contra Portugal.

De qualquer forma, o Brasil parece historicamente avesso a rupturas bruscas:  nossa Independência foi declarada por Dom Pedro I, suposto representante da metrópole, que se vestiu de Imperador brasileiro;  a República foi proclamada por um Marechal tão pouco convencido do que estava fazendo que se recusou a dar a notícia a Dom Pedro II, porque, em suas palavras:  "Eu chego lá, o velho chora, eu choro e não proclamo a República".  Quanta conviccção, quanto denodo!  Algumas lágrimas imperiais, deixava-se para lá a República e continuávamos monarquistas!  É Brasil!

Nestas paragens, de fato, nada parece ser sério.  Hitler, coitado, se nosso Führer, ter-se-ia suicidado muito antes de 1945:  aqui, seu projeto genocida teria virado piada.  Os brasileiros teriam sido subornados pelos judeus e, dando um "jeitinho", arranjar-lhes-iam documentos que os fizessem poder entrar até para a SS; teriam, com igual “jeitinho”, convencido judias a miscigenar-se e, com "peninha" de crianças condenadas a morte, tê-las-iam adotado!

Mas, no fim das contas, o que será pior?  Nossa independência de facto estar tão atrasada em relação a nossa independência de jure, ou, como fizeram os franceses, entoar a Marselhesa durante o radicalismo da Revolução para, logo depois, ouvir a melodia incessante da guilhotina, durante o Terror? 

Radicalismo ou gradualismo?  O que poupa mais sangue e dor?  O que leva a trilhar de maneira mais segura o caminho do crescimento?  

Vou-lhes dizer:  não sei.  Mas fica a impressão de as gerações atuais estariam tirando grande proveito de um pouco mais de belicismo e de sangue no currículo de seus antepassados...

P.S.:  Para quem entende de Astrologia, vale mencionar que nosso mapa da República - que, compreensivelmente, parece permitir previsões mais corretas do que o de nossa pseudo-independência - tem o Marte, deus da guerra, no seu exílio, em Libra.


Um comentário:

Fernando Ebraico disse...

Tem mais um detalhe que não ensinam nas nossas escolas: com a morte de Don João VI, Don Pedro I abdicou para o filho e voltou para Portugal, para disputar a coroa perdida. Chegou a armar um exército a partir dos Açores, mas perdeu. Se o resultado fosse outro, provavelmente efetuaria a "desindependência" do Brasil e seríamos o resultado desse espólio de briga de família: colônia outra vez.