Antes da Independência, os brasileiros, inteligentemente, roubavam os portugueses e infringiam suas leis; depois dela, estupidamente, roubam uns aos outros e infringem suas próprias leis... E mandam o fruto do roubo para fora daqui, como faziam os portugueses... Essa estupidez - aliás, como a maior parte delas - é psicologicamente explicável.
A independência do Brasil não foi CONQUISTADA pelos brasileiros, foi OUTORGADA a nós. E por quem nos colonizava, um imperador português, que, após a tal "indepedência", continuou plácida e confortavelmente assentado no poder, assim como a maior parte de sua camarilha, aplicando, travestida de brasileira e algo maquiada, uma legislação de origem essencialmente portuguesa.
Dava para PERCEBER que havia ocorrido uma Independência? Ou melhor, havia ela, de fato, ocorrido?
Fica a impressão de que somente INTERNALIZAMOS OS COLONIZADORES, ao invés de defenestrá-los; de que os privilégios – incluídas as imunidades – dos aristocratas hereditários portugueses, foram, simplesmente repassados um funcionalismo estatal absurdamente inchado, que, eleito ou nomeado, maneja leis que protegem mais a ele do que ao restante da população, para a qual sobram migalhas (que, aliás, num país tão rico, não são tão migalhas assim, o que favorece a pasmaceira geral). Assim, enquanto, durante o domínio português, os aristocratas impunham o "quinto do ouro" e a população defendia-se com "santos de pau oco", a "nomenklatura" brasileira atual, para sustentar a si e a seu irrefreável nepotismo, impõe ao povo uma assombrosa carga fiscal (= quinto do ouro), contra o qual esse último reage com uma evasão fiscal (= santo de pau oco) não menos assombrosa. De um lado, opressores; do outro, infratores da Lei, que não reconhecem como deles. Como diriam os romanos: non nova, sed novae. Nada de novo, apenas de outra maneira...
Logo em seguida à independência da República Tcheca, cuja ruptura com a União Soviética, com a Rússia e com a Iugoslávia foi algo marcante, não diluída como foi a nossa, ouvimos Vaclav Hazel, o primeiro presidente dessa nova república, proclamar: "Doravante, tudo deverá ser feito de acordo com a lei!"
E por que SÓ DALI PARA FRENTE a lei deveria ser obedecida? Simples e óbvio: porque, a partir daquele momento, as leis eram dos tchecos, feitas pelos tchecos, para servir aos tchecos, não mais dos soviéticos, feitas pelos soviéticos, para servir aos soviéticos. ANTES, O PATRIÓTICO ERA DESOBEDECER À LEI!
Bem, se, no Brasil, parte significativa da Lei continua a servir aos poderosos, representando o câncer de um colonialismo internalizado, não admira que, confusa, sem saber se é dona ou não do próprio país, a população, quase que como por inércia, continue a prática do roubo e da infração que soube tão aplicar contra Portugal.
De qualquer forma, o Brasil parece historicamente avesso a rupturas bruscas: nossa Independência foi declarada por Dom Pedro I, suposto representante da metrópole, que se vestiu de Imperador brasileiro; a República foi proclamada por um Marechal tão pouco convencido do que estava fazendo que se recusou a dar a notícia a Dom Pedro II, porque, em suas palavras: "Eu chego lá, o velho chora, eu choro e não proclamo a República". Quanta conviccção, quanto denodo! Algumas lágrimas imperiais, deixava-se para lá a República e continuávamos monarquistas! É Brasil!
Bem, se, no Brasil, parte significativa da Lei continua a servir aos poderosos, representando o câncer de um colonialismo internalizado, não admira que, confusa, sem saber se é dona ou não do próprio país, a população, quase que como por inércia, continue a prática do roubo e da infração que soube tão aplicar contra Portugal.
De qualquer forma, o Brasil parece historicamente avesso a rupturas bruscas: nossa Independência foi declarada por Dom Pedro I, suposto representante da metrópole, que se vestiu de Imperador brasileiro; a República foi proclamada por um Marechal tão pouco convencido do que estava fazendo que se recusou a dar a notícia a Dom Pedro II, porque, em suas palavras: "Eu chego lá, o velho chora, eu choro e não proclamo a República". Quanta conviccção, quanto denodo! Algumas lágrimas imperiais, deixava-se para lá a República e continuávamos monarquistas! É Brasil!
Nestas paragens, de fato, nada parece ser sério. Hitler, coitado, se nosso Führer, ter-se-ia suicidado muito antes de 1945: aqui, seu projeto genocida teria virado piada. Os brasileiros teriam sido subornados pelos judeus e, dando um "jeitinho", arranjar-lhes-iam documentos que os fizessem poder entrar até para a SS; teriam, com igual “jeitinho”, convencido judias a miscigenar-se e, com "peninha" de crianças condenadas a morte, tê-las-iam adotado!
Mas, no fim das contas, o que será pior? Nossa independência de facto estar tão atrasada em relação a nossa independência de jure, ou, como fizeram os franceses, entoar a Marselhesa durante o radicalismo da Revolução para, logo depois, ouvir a melodia incessante da guilhotina, durante o Terror?
Radicalismo ou gradualismo? O que poupa mais sangue e dor? O que leva a trilhar de maneira mais segura o caminho do crescimento?
Vou-lhes dizer: não sei. Mas fica a impressão de as gerações atuais estariam tirando grande proveito de um pouco mais de belicismo e de sangue no currículo de seus antepassados...
P.S.: Para quem entende de Astrologia, vale mencionar que nosso mapa da República - que, compreensivelmente, parece permitir previsões mais corretas do que o de nossa pseudo-independência - tem o Marte, deus da guerra, no seu exílio, em Libra.
Um comentário:
Tem mais um detalhe que não ensinam nas nossas escolas: com a morte de Don João VI, Don Pedro I abdicou para o filho e voltou para Portugal, para disputar a coroa perdida. Chegou a armar um exército a partir dos Açores, mas perdeu. Se o resultado fosse outro, provavelmente efetuaria a "desindependência" do Brasil e seríamos o resultado desse espólio de briga de família: colônia outra vez.
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