domingo, março 04, 2012

A DEFINIÇÃO DE SER HUMANO


O pensamento ocidental conseguiu PIORAR a famosa definição grega de que o ser humano é um "animal CAPAZ DE RAZÃO", substituindo-a pela estúpida afirmação de que homem é um "animal RACIONAL", transformando mera possibilidade em fato consumado, num passe de mágica que tenta esconder a assustadora frequência em que tal possibilidade fica fragorosamente aquém de ser concretizada.

E, como reparo da definição em tela, simplesmente substituir o "animal racional" por "animal capaz de razão" ainda fica longe de fazer jus à proposta grega, pois perde-se significado ao traduzir o original, que descreve o homem como capaz de "logos", de forma equivalente a considerá-lo capaz de "razão". "Logos" não corresponde apenas a "razão", corresponde a "RAZÃO DISCURSADA", um tipo de razão, portanto, capaz de expressar-se por meio de PALAVRAS. Ou seja, em consonância com o que afirmo em "A Nova Conversa", o acontecer humano só chega a termo quando chega ao termo.

[A propósito, tal como o latim "homo" e o alemão "Mensch", o grego "anthropos" abrange em seu significado não apenas o varão, mas também a mulher. Não ter isso em vista permite que se cometam atrocidades como traduzir ridiculamente por "super-homem" o "Übermensch" - ser humano superior - de Nietzsche.]
Mas, mesmo devidamente remetida a seu significado original, ao conceituar o ser humano como "animal capaz de razão discursada", a definição grega ainda fica aquém do desejável para fazer jus à natureza mais íntima do objeto a que se refere.
Se a capacidade de construir silogismos é o ápice da capacidade de raciocinar - e tendo a considerar que animais não humanos são capazes de fazer isso em um nível pré-verbal - não é só a capacidade de expressar tais silogismos em palavras que caracteriza o humano (Cassirer, por exemplo, tendo isso em conta, define o ser humano como "animal simbólico"), mas, sim, sua capacidade de pensar sobre os próprios silogismos, exarando critérios para determinar se podemos ou não atribuir a cada qual dentre eles valor de verdade. Se, como penso, assim é, a definição que nos ocupa deveria correr:
  
SER HUMANO = ANIMAL CAPAZ DE PENSAR SOBRE O PENSAMENTO,

Ou, numa terminologia que me é cara,

  ANIMAL CAPAZ DE METAPENSAR.


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