Em janeiro de
1893, publicava-se, numa revista de neurologia, em Berlim, a seguinte sequência
de palavras, não obstante perdidas em meio a um parágrafo de sintaxe bastante arrevesada,
creio, até para um falante nativo do alemão:
“descobrimos
... que os sintomas histéricos... desapareciam ... quando ... o enfermo ... dava...
da forma detalhada mais detalhada possível ... palavras à emoção”.
Se a
descoberta correspondesse aos fatos – e corresponde – e pudesse ser estendida –
e pode – para além dos limites da histeria, abrangendo todos os demais quadros
neuróticos, seria apenas necessário desenvolver técnicas, as mais eficazes possíveis, para servir a essa estratégia,
cujo objetivo simples, claro e chão é permitir, da forma cada vez mais
rápida e duradoura, que um paciente “dê palavras, o mais detalhadamente possível,
a suas emoções” para que portentoso desenvolvimento fosse dado à cura da
neurose. E o que, de fato, aconteceu? Vejamos.
Uma
instituição, frequentes vezes, não passa de uma inflamação, criada em torno de
uma ideia, para sufocá-la. A Igreja
Católica e o Partido Comunista são acabado exemplo disso. As Sociedades Psicanalíticas parecem ter
pretendido, e com sucesso, seguir-lhes fielmente as pegadas e, dentro delas, as
palavras, não há dúvida, se multiplicaram, se multiplicaram, se multiplicaram e
continuam se multiplicando, se multiplicando, se multiplicando... Desafortunadamente, ocorreu um pequeno
deslize e as palavras que se multiplicaram e se multiplicaram e se multiplicaram
foram as dos analistas, não as dos pacientes, e, visto não terem encontrado
nada mais tão espetacular assim para ser dito, suas novas palavras foram progressivamente
soterrando, soterrando, soterrando aquelas palavras simples e brilhantes, que tinham
algo fundamental a dizer, mas que acabaram cinzas, quase silenciadas, sob a
poeira de nada que sobre elas se depositou.
E eu, o que
tenho de novo e brilhante a dizer?
Nada. Então, já que não tenho, vou
repetir:
“Se os
pacientes forem auxiliados pelos seus psicanalistas, por meio de não importa
qual técnica, a dar, de forma bastante detalhada, palavras às suas emoções,
seus sintomas neuróticos desaparecem”.
Simples, não? Pois é...
[Bem, para
quem gosta do alemão e o entende: as
palavras garimpadas por mim fazem parte do trecho seguinte, destacadas em
negrito e vermelho (o itálico são dos
próprios autores):
„Wir fandem nämlich, anfangs unserer gröβten
Überraschung, daβ
die einzelnen hysterischen Symptome sogleich und ohne Wiederkehr verschwanden,
wenn es gelungen war, die Erinnerung an den veranlassenden Vorgang zu voller
Helligkeit zu erwecken, damit auch den begleitenden Affekt wachzurufen, und wenn
dann der Kranke den Vorgang in möglichkeit ausführliche Weise schilderte und dem Affekt Worte gab. Affektloses Erinnern ist fast immer
völlig wirkunglos.“ Breuer, J. &
Freud, S. „Über den Psychischen Mechanismus Hysterischer Phänomene“. Berlin: Neurologisches Zentralblatt, Janeiro, 1893,
vol. 12 (1), como disse, a parte que vai em itálico é dos autores].
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