sábado, fevereiro 22, 2014

ASTROLOGIA MUNDIAL

Em 2010, decidi que passaria a dedicar parte de meus estudos à Astrologia Mundial. Isso pelo simples fato de que estava começando a ficar cansado de oferecer ao público sustentação da eficácia de minhas previsões astrológicas mediante casos que apenas eu - por vezes, mais uma ou duas pessoas - havia presenciado. 
Fiz, a partir de então, previsões sobre fatos mundiais que, por sua natureza, estariam ao alcance de todos, embora não me lembro quais delas cheguei a tornar públicas. 

Uma foi a de que a entrada definitiva, sem retrogradações, de Plutão no primeiro decanato de Capricórnio traria cataclismos de grandes proporções relacionados com deslocamentos da e sob a crosta terrestre. Acertei. Com efeito, pouco depois de eu haver externado isso, começaram, no fim de 2009, na Islândia, as atividades sísmicas sob um vulcão, que, adormecido desde 1821, voltou, em abril de 2010, quase dois séculos depois, à lançar enormes volumes lava e cinza de sua cratera. Menos de um ano depois, em Março de 2011, um tsunami de proporções gigantescas assolou a costa do Japão, deixando quase 20.000 vítimas, entre mortos e desaparecidos. 

Outra foi ter adiantado que a entrada de Urano no primeiro decanato do signo de Áries ("beijou" esse decanato do signo do fim de maio de 2010 até meados de agosto desse ano, depois entrou definitivamente nele a partir de março de 2011, devendo sair dele, passando sem retrogradações para o de Leão em fevereiro de 2014 - o que, a meu ver, deverá trazer descrédito para várias cabeças concreta ou simbolicamente coroadas) - iria trazer REVOLTAS SANGRENTAS CONTRA REGIMES TOTALITÁRIOS. Acertei: a onda de protestos batizada de "primavera árabe", iniciada APÓS EU HAVER FEITO A PREVISÃO, destronou quatro ditadores: os da Tunísia e do Egito deixaram o poder sem oferecer grande resistência, Muammar Kadafi, da Líbia, deixou o poder morto, o do Iêmen, após resistir durante vários meses à manifestações populares, transferiu o poder para um governo provisório, Bashar al-Assad resite até agora. Evidentemente, como previsto, sobrou sangue para todo lado. 

No ano passado, quando os comentaristas políticos mundiais apontavam a solidez de Putin como tsar comunista, observei: é, mas a partir de fevereiro de 2014 vai ter essa solidez fortemente abalada, pois Plutão vai, a partir daí, até dezembro de 2015, fazer oposição ao grau ocupado por seu Sol, regente de seu Meio-do-Céu (= posições de poder hierárquico) . Acertei. Pensei que isso fosse acontecer em torno dos eventos ligados à Olimpíada de Inverno em Sochi. Errei. Está acontecendo na Ucrânia, em Kiev, que está opondo ao tsar atual a resistência que, na segunda metade do século XVI não pode opor a Ivan, o Terrível, que a assolou com requintes da maior crueldade. Minha previsão atual é a de que, depois de um breve intervalo durante meados de 2014, essa posição irá culminar novamente, no fim desse mesmo ano, de forma que novas eleições deverão, de fato, ocorrer em dezembro desse ano na Ucrânia, sendo eleito um presidente que irá opor-se fortemente às intenções de Putin de impedir uma relação mais estreita entre a Ucrânia e a Comunidade Europeia. Se Putin, a partir disso, não for apeado do poder, fará jus a seu mapa natal, que o revela como, possivelmente, uma das pessoas mais poderosas deste planeta (Plutão em conjunção ao Meio-do-Céu, regendo o Ascendente, em trígono com Marte, sextilha com Mercúrio, Saturno e Netuno, vendo-se, ao topo disso tudo, inflado por uma quadratura de Júpiter). O cara não é mole.

Em tempo:  Fiquei atraído pela Astrologia Mundial, quando, em dezembro de 1985, assistindo, em Congresso Mundial de Astrologia, a uma palestra de André Barbault, a maior autoridade então conhecida nessa matéria, ouvi-o responder a uma pergunta sobre se ele teria alguma previsão a fazer sobre o Brasil que, por volta de 28 de fevereiro do ano seguinte, deveria haver uma profunda reformulação das regras do jogo econômico-financeiras imperantes em nosso país.  Para meu completo assombro, EXATAMENTE EM 28 DE FEVEREIRO DE 1986, O PRESIDENTE SARNEY PÕE LANÇA O PLANO CRUZADO, com base no decreto lei número 2.283, de fevereiro de 1986.  Vou repetir, para eu mesmo ouvir, porque nem eu mesmo acredito:  EM DEZEMBRO DE 1985, eu ouvi de um especialista em Astrologia Mundial, que, EM TORNO DE 28 DE FEVEREIRO DE 1986, haveria profunda reformulação das regras de jogo econômico-financeiras vigentes em nosso país, seja, EXATAMENTE NA DATA DE LANÇAMENTO DO PLANO CRUZADO.  Que é isso, Astrologia ou Vudu? Como podem imaginar, mais de uma centena de pessoas, presentes à palestra, podem confirmar isso!

INSÔNIA

Alguém, aqui, sofre de insônia? Pois bem, muitas vezes, vi pessoas próximas ficarem admiradas frente a pedidos meus, do tipo: "quero dormir um pouco, mas só tenho (literalmente) dez minutos. Você me acorda?" Mais de uma vez, ouvi: "Como!? Você vai conseguir se recostar (às vezes, numa mera poltrona) e cair no sono durante apenas dois minutos?" Pois é. Lá ia eu, recostava-me, e DORMIA DURANTE DEZ MINUTOS!

Os protestos e a admiração que enfrentei acabaram por fazer-me curioso em relação a essa minha anormalidade e resolvi prestar atenção. Conclui o seguinte:

Se uma pessoa se recosta e pensa "TENHO QUE dormir dez minutos, pois é o único tempo que tenho para isso", poucos segundos após recostar-se, percebe: "Ainda não estou dormindo"! Consequência: SINAL DE PERIGO, que nos põe mais alertas, levando-nos, naturalmente, a perceber nitidamente que CONTINUAMOS ACORDADOS, o que nos põe mais alertas ainda, e, naturalmente, mais insones, o que nos põe mais desesperados, ocupados com pensamentos do tipo "meu deus, vou ter que trabalhar horas seguidas, com sono", pensamento assustados que, naturalmente, não nos deixa dormir, e acabamos envolvidos nesse torturante círculo em que o perceber que não estamos dormindo nos põe em um estado de alerta que definitivamente não nos deixa dormir. Mas, graças aos céus, logo somos libertados dessa tortura pela pessoa que, gentilmente, passados os 10 minutos que estivemos envolvidos por ela, nos vem trazer, insones, para a vigília declarada, mas menos torturante, de nossa miséria cotidiana... Que bom que acabou! Mas, na verdade, nós queríamos era ter dormido!

Mas... e como consigo eu dormir placidamente durante praticamente todos os dez minutos durante os quais me disponho a fazê-lo?

Prestei atenção. Penso, ao me ver já recostado: "Vou RELAXAR BASTANTE durante estes dez minutos, quem sabe, até, dormir? Aí, percebo QUE ESTOU BEM MAIS RELAXADO, o que, naturalmente, me deixa bastante relaxado, o que, ao ser percebido, relaxa-me ainda mais, até que... Até que acordo, dez minutos depois, com o gentil chamado de quem me veio acordar...

Quem sabe dá certo com outras pessoas? Pode ser.

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

O ALFA E O ÔMEGA DA PSICANÁLISE


Em janeiro de 1893, publicava-se, numa revista de neurologia, em Berlim, a seguinte sequência de palavras, não obstante perdidas em meio a um parágrafo de sintaxe bastante arrevesada, creio, até para um falante nativo do alemão:

“descobrimos ... que os sintomas histéricos... desapareciam ... quando ... o enfermo ... dava... da forma detalhada mais detalhada possível ... palavras à emoção”.

Se a descoberta correspondesse aos fatos – e corresponde – e pudesse ser estendida – e pode – para além dos limites da histeria, abrangendo todos os demais quadros neuróticos, seria apenas necessário desenvolver técnicas, as mais eficazes possíveis, para servir a essa  estratégia, cujo objetivo simples, claro e chão é permitir, da forma cada vez mais rápida e duradoura, que um paciente “dê palavras, o mais detalhadamente possível, a suas emoções” para que portentoso desenvolvimento fosse dado à cura da neurose.  E o que, de fato, aconteceu?  Vejamos.

Uma instituição, frequentes vezes, não passa de uma inflamação, criada em torno de uma ideia, para sufocá-la.  A Igreja Católica e o Partido Comunista são acabado exemplo disso.  As Sociedades Psicanalíticas parecem ter pretendido, e com sucesso, seguir-lhes fielmente as pegadas e, dentro delas, as palavras, não há dúvida, se multiplicaram, se multiplicaram, se multiplicaram e continuam se multiplicando, se multiplicando, se multiplicando...  Desafortunadamente, ocorreu um pequeno deslize e as palavras que se multiplicaram e se multiplicaram e se multiplicaram foram as dos analistas, não as dos pacientes, e, visto não terem encontrado nada mais tão espetacular assim para ser dito, suas novas palavras foram progressivamente soterrando, soterrando, soterrando aquelas palavras simples e brilhantes, que tinham algo fundamental a dizer, mas que acabaram cinzas, quase silenciadas, sob a poeira de nada que sobre elas se depositou.

E eu, o que tenho de novo e brilhante a dizer?  Nada.  Então, já que não tenho, vou repetir: 

“Se os pacientes forem auxiliados pelos seus psicanalistas, por meio de não importa qual técnica, a dar, de forma bastante detalhada, palavras às suas emoções, seus sintomas neuróticos desaparecem”.

Simples, não?  Pois é...

[Bem, para quem gosta do alemão e o entende:  as palavras garimpadas por mim fazem parte do trecho seguinte, destacadas em negrito  e vermelho (o itálico são dos próprios autores): 

Wir fandem nämlich, anfangs unserer gröβten Überraschung, daβ die einzelnen hysterischen Symptome sogleich und ohne Wiederkehr verschwanden, wenn es gelungen war, die Erinnerung an den veranlassenden Vorgang zu voller Helligkeit zu erwecken, damit auch den begleitenden Affekt wachzurufen, und wenn dann der Kranke den Vorgang in möglichkeit ausführliche Weise schilderte und dem Affekt Worte gabAffektloses Erinnern ist fast immer völlig wirkunglos.“  Breuer, J. & Freud, S.  „Über den Psychischen Mechanismus Hysterischer Phänomene“Berlin:  Neurologisches Zentralblatt, Janeiro, 1893, vol. 12 (1), como disse, a parte que vai em itálico é dos autores]. 

terça-feira, fevereiro 04, 2014

AR E LUZ

AR E LUZ

JOÃO:  – Márcio, embora eu estivesse muito aBAFado (˂bafo↔ar), quando o Pedro chegou, recebi-o assim mesmo.  Eu estava desANIMado (˂latim “anima” ↔ grego “psyché” = respiração de vida, princípio vital, alma [*]), eSTRessado (˂latim “strictu”= estreito = respiração estreitada) e cheio de ANGÚSTIA (˂latim “angustia”= desfiladeiro = respiração estreitada) e, como ele tem a mente bem ARejada (˂ar), achei que, se VENTilássemos (↔, vento, ar) alguns assuntos, poderíamos jogar mais LUZ sobre alguns deles, encontrando, talvez, INSPIRação (↔ar) suficiente para inVENTar (↔vento, ar) algumas soluções provedoras do ALENTO (˂latim “anhelito” = bafo, hálito, respiração) que me faltava.
De fato, a conversa acabou por deixar CLARos (↔luz) vários pontos anteriormente obSCUROS (↔luz), produzindo duas ou três ideias LUMINosas (˂latim “lumina” = luz), bem capazes de tirar das dificuldades em que me encontro!
Eu estava bem APAGADO (↔luz), quando Pedro chegou.  Agora, ACENDERAM-SE (↔luz) novas esperanças em mim!  Por isso, aVENTei (↔vento, ar) a hipótese de nos encontrarmos mais.  Saiu todo INFLADO! 

*  Peters, F. E.  “Termos Filosóficos Gregos”.  Lisboa:  Fundação Calouste Gulbekian, 1983.

segunda-feira, janeiro 20, 2014

O CONCEITO DE CIVILIZAÇÃO

 Entendo que "civilização" - que, convenhamos, é o oposto de "militarização" - pode ser satisfatoriamente definida de duas formas. Como (1) o tipo de sociedade que produz suficiente excedente econômico para possuir profissionais especialmente dedicados à produção de arte, de ciência ou de filosofia, ou (2) o tipo de sociedade "em que o fraco é respeitado". Infelizmente, não consigo localizar a fonte da afirmação entre aspas. Sei que foi um padre. Alguém conhece essa fonte?

BATE-PAPO COM FREUD

BATE-PAPO COM FREUD[1]

César Ebraico


Eu: — Freud !
Freud: — Humm?
Eu: — Preciso conversar com você. O assunto é grave.
Freud: — O que foi?
Eu: — Acho que você deu um fundamento behaviorista à Psicanálise e isso está dando a maior confusão.
Freud: — Behaviorista? Que é isso?
Eu: — É simples. É uma escola de pensamento que afirma que o único tipo de dado psicológico merecedor de ser considerado científico são os que se podem diretamente observar.
Freud: — Que estupidez! Eu não tenho nada a ver com isso!
Eu: — Tem.
Freud: — Como?
Eu: — Quer ver?
Freud: — Duvido um pouco, mas vamos lá.
Eu: — Tem mais: o que é behaviorista em sua teoria global é a sua teoria da sexualidade.
Freud: — O quê???!!!
Eu: — Isso mesmo que você ouviu. Você não ampliou o conceito de sexualidade?
Freud: — Sem dúvida. E isso é fundamental.
Eu: — Acredito, mas tem confusão aí.
Freud: — Como assim?
Eu: — Como foi a ampliação que você fez desse conceito?
Freud: — Fiz três ampliações básicas: estendi a sexualidade à infância; estendi-a ao simbólico e ampliei o próprio conceito de sexualidade para além de suas vinculações com o fim de reprodução.
Eu: — Você se importaria de falar um pouco sobre cada uma dessas ampliações?
Freud: — De forma alguma. Vamos por partes. No que diz respeito à primeira, a extensão à infância, era evidente o absurdo de se imaginar que a sexualidade havia caído do céu na puberdade, sem que houvesse passado por estágios anteriores, infantis, de desenvolvimento. Você deve, inclusive, se lembrar de eu haver declarado que me sentia meio mal com o fato de que parte de minha fama era devida a eu sustentar a veracidade de um fato fartamente conhecido por qualquer babá.
Eu: — É verdade. E a segunda extensão?
Freud: — Bem, mostrei com ênfase e clareza como a sexualidade invadia os símbolos usados pelo ser humano. Como, p.e., ao falar de uma minhoca entrando na terra, podemos estar querendo nos referir ao coito. Mas, aqui, também chamei atenção para como todo esse conhecimento parece estar à disposição de qualquer um de nós, mesmo não psicanalistas, fato que se revela, p.e., na especial capacidade de as pessoas apaixonadas compreenderem os mais sutis símbolos enviados pelo objeto de suas paixões.
Eu: — E a terceira extensão?
Freud: — Como eu disse, estendi o conceito de sexualidade para além de suas vinculações com o fim de reprodução.
Eu: — Tem behaviorismo aí.
Freud: — !?
Eu: — Posso demonstrar-lhe isso. Mas dependeria, se você estiver de acordo, de que me repetisse os argumentos em que fundamenta essa terceira extensão.
Freud: — Não me custa. Na verdade, é bem simples. Essa extensão se baseia na análise das perversões. Aliás, você deve se lembrar de que, em minhas “Conferências Introdutórias à Psicanálise”, deixei bem claro que essa análise das perversões é o único fundamento para a nossa afirmação de que sexualidade e reprodução não coincidem.
Eu: — Sua análise das perversões é behaviorista, não é psicanalítica. Repita a sua argumentação e mostro-lhe isso.
Freud: — Aceito o desafio. Responda-me, então: homossexualidade, pedofilia, sadomasoquismo, fetichismo são perversões sexuais, não são?
Eu: — Não tenho dúvidas quanto a isso.
Freud: — Pois bem. Homossexualidade, pedofilia, sadomasoquismo, fetichismo têm alguma coisa a ver com os fins de reprodução?
Eu: — Você acha que não?
Freud: — Você tem alguma dúvida? Você acha, por exemplo, que uma relação sexual anal tem alguma coisa que ver com os fins de reprodução?
Eu: — Você andou tendo aulas com Watson?
Freud: — Watson?
Eu: — Fundador do behaviorismo...
Freud: — E o que tem ele a ver com esse seu argumento?
Eu: — Olha aqui, Freud: se Watson me dissesse que uma relação sexual anal nada tem a ver com os fins de reprodução porque não há ovários nos intestinos, estava tudo bem. Você não tem esse direito. Não porque eu lho tire, mas pelas próprias posições teóricas e metateóricas que você mesmo adotou.
Freud: — Que é “metateórica”?
Eu: — Não importa. Peço, apenas, que você siga uns instantes meu raciocínio e você entenderá o que quero dizer.
Freud: — Vejamos.
Eu: — Pois veja. Você não estendeu a sexualidade ao simbólico, como você mesmo afirmou há pouco?
Freud: — Sem dúvida.
Eu: — E não foi você que expôs ao mundo a tão freqüente fantasia infantil de que crianças nascem pelo ânus?
Freud: — Você sabe que sim.
Eu: — Pois bem, o que terá impedido a você, que reconheceu tão claramente as fantasias infantis de nascimento pelo ânus, de ver a possibilidade de que, no coito anal, esteja subjacente a fantasia de emprenhar a mulher pelo mesmo lugar em que se fantasiou que ela é capaz de parir? Falando de forma mais geral: o que lhe terá impedido de entender as perversões — seja a relação anal, sejam quaisquer outras — como o resultado do conflito entre o desejo de reprodução e as demais forças que se opõem a ele? Na verdade, posso-lhe afirmar que, nas análises que realizei, as perversões sempre se revelam como expressões distorcidas — daí o termo “per-vertidas” (vertidas em um lugar marginal) — de um desejo de reprodução. Só um behaviorista pode afirmar que uma relação homossexual não tem nada a ver com o fim de reprodução, porque não é capaz, como deveria ser um psicanalista, de hipotetizar que essa relação pode simplesmente ser o desvio, por razões defensivas, dos desejos sexuais para um lugar onde a reprodução não pode ocorrer. Você sabe muito bem que o fato de um impulso não atingir o fim que almeja não desqualifica esse fim como sendo o almejado. Falou isso claramente, quando afirmou que o fato de determinados sonhos produzirem angústia não desconfirma a hipótese de que, originalmente, sua meta era produzir prazer: mostra, apenas, que algum obstáculo impediu que esse fim fosse atingido. E acrescente-se, dizer que uma árvore frutífera não tem nada a ver com produzir frutos porque, por exemplo, não atingiu a idade de fazê-lo, ou porque a puseram abaixo antes disso é um raciocínio tão primitivo que não faz jus à genialidade de sua restante produção teórica.
Freud: — !?
Eu: — Quero-lhe fazer mais uma pergunta.
Freud: — Ainda estou pensando no que você me disse, mas faça.
Eu: — O que é que você acha de sua própria afirmação de que a mulher não tem medo de castração porque não tem pênis?
Freud: — Alguma coisa de errado também aí?
Eu: — Lamento, mas acho que sim.
Freud: — O quê?
Eu: — Você, certamente, já visitou uma fazenda.
Freud: — Claro.
Eu: — E, possivelmente, já viu castrarem algum animal.
Freud: — Um cavalo.
Eu: — Foi o pênis que tiraram dele, Freud?
(Silêncio)
Eu: — Foi o pênis, Freud?
Freud: — Não, foram os testículos.
Eu: — Responda-me mais uma coisa: você se lembra de Frau Meyer?
Freud: — A dos gatos?
Eu: — Exato. Lembra-se de que havia uma gata da qual ela nunca se separava?
Freud: — Claro. Uma angorá branca.
Eu: — Lembra-se de que ela mandou castrar essa gata?
Freud: — É verdade.
Eu: — Então, diga-me uma coisa: foi o pênis que tiraram da gata?
(Silêncio)
Eu: — Foi o pênis, Freud?
Freud: — Não.
Eu: — Foi o quê?
Freud (com evidente má vontade): — Os ovários.
Eu: — Então, Freud, como é que a mulher não pode ter medo de castração?
Freud: — Confesso que estou um pouco confuso...
Eu: — Talvez eu possa ajudá-lo.
Freud: — Por favor...
Eu: — Vou usar, para fazê-lo, a teoria que aprendi de você.
Freud: — Diga.
Eu: — Você tem dificuldade de pensar a castração e, por isso, executou-a.
Freud: — Como assim?
Eu: — Não é claro que pensar a castração como ablação do pênis é uma distorção de seu real significado?
Freud: — De imediato, não estou vendo maneira de escapar disso...
Eu: — Você não nos ensinou que quem não pensa, faz?
Freud: — E estou certo disso.
Eu: — Pois bem. Acho que a castração que você não conseguiu pensar — identificando-a enganosamente com a retirada do pênis e, não, das gônadas, sejam, os testículos e os ovários — essa castração não pensada você a executou em sua teoria, desvinculando a sexualidade de seus fins de reprodução, cometendo, em ambos os casos, infrações flagrantes, como vimos, da lógica e do bom-senso.
Freud: — Estou perplexo.
Eu: — Acha que vale a pena irmos adiante?
Freud: — Como assim?
Eu: — Você nos ensinou que, quando uma pessoa lógica e de bom-senso, comete uma infração evidente da lógica e do bom-senso, ela está sendo vítima da ação de idéias reprimidas. Não é assim?
Freud: — Não tenho qualquer dúvida quanto a isso.
Eu: — Você é uma pessoa lógica e de bom-senso, não?
Freud: — Considero-me assim.
Eu: — Também eu. Assim sendo, se uma pessoa lógica e de bom-senso, cometeu, em um ponto-chave de sua teoria, uma flagrante infração da lógica e do bom-senso, nesse ponto você deveria estar sob a ação de algumas dessas idéias. De acordo?
Freud: — Seria impossível não concordar. Mas qual seriam elas?
Eu: — Gostaria de agrupá-las sob o nome de Complexo de Caim.
Freud: — Você diz alguma coisa em relação aos meus irmãos?...
Eu: — Trata-se, naturalmente, de uma mera hipótese, que deveria ser testada a partir de suas associações espontâneas a ela.
Freud: — E qual seria essa hipótese?
Eu: — No meu entender, você usou materiais relativos a sua rivalidade com o seu pai — parte, em suas próprias palavras, de seu Complexo de Édipo — como memórias encobridoras de sua rivalidade com seus irmãos. Explico-me. Veja bem. Nos materiais do Complexo de Édipo, é seu pai o responsável pela ameaça de castração, que, em sua compreensão dessa última, visaria, não os testículos, mas o pênis. Na hipótese a que me estou referindo, é você que representa essa ameaça e, permita-me, ela se volta contra os ovários de uma mulher, sua mãe.
Freud: — Você está sugerindo que nossa culpa original está relacionada a um desejo de castração, não ao medo dela, e que esse desejo original está voltado para os ovários de nossa mãe, por rivalidade, não com nosso pai, mas com irmãos supostos ou reais?
Eu: — Não generalizemos. Eu estou sugerindo é que sua culpa original está relacionada a um desejo de castração voltado para os ovários de sua mãe, por rivalidade com seus irmãos, todos eles bastante reais. Uma generalização maior dependeria de outras análises, se bem que posso, desde já, admitir que tenho freqüentemente confirmado a presença do Complexo de Édipo como defesa erigida contra a conscientização do Complexo de Caim. Em todos esses casos, o menino projetou sobre a mãe seus próprios impulsos de castrá-la, passou a temer que ela fizesse isso com ele, deslocou essa figura materna ameaçadora para o pai e desviou seu medo de perder os testículos para o medo de perder o pênis.
Freud: — Bem, se for assim...
Eu: — Gostaria de completar algo antes de ouvi-lo. Acho que, em seu caso específico, esse impulso para castrar, insuficientemente analisado, possivelmente se fixou em torno do nascimento de sua irmã, Ana, nascida quando você tinha dois anos e meio de idade, mais do que em torno do nascimento de seu irmão Julius, que nasceu quando você tinha um ano e um mês, morrendo oito meses depois. Aliás, o nome Ana acompanhou-o pela vida afora. Sou inclinado mesmo a imaginar que foi você, e não Breuer, quem sugeriu para Bertha Pappenheim, o pseudônimo de Ana O..
Freud: — Eu...
Eu: — Deixe-me terminar. O sonho de Irma mostra claramente — embora você não tenha publicado isso em sua interpretação do sonho — que você, no momento em que o sonho ocorreu estava apreensivo com a possibilidade de haver engravidado sua mulher e albergava desejos de assassinar sua possível cria. Sua mulher estava, de fato, grávida à época do sonho e Ana foi o nome dado a filha que nasceu (será excessivo especular que o nome foi escolhido por você?). Filha que, certamente devido, pelo menos em parte, à relação que desenvolveu com o pai, não casou nem teve filhos (alguma duvida de que, embora ela não tivesse pênis, isso merece o nome de castração?) notabilizando-se, entretanto, exatamente por sua dedicação profissional ao tratamento de crianças?
Freud: — Tudo isso me deixa muito surpreso, mas confesso que acabo de me recordar de que...




[1]  Publicado originalmente em junho de 1985, nos Cadernos de Psicanálise,  revista oficial da Sociedade Psicanalítica Iracy Doyle.

sexta-feira, agosto 31, 2012

ALGO DE NOVO COM A SÍRIA?

Bem, se o mapa que possuo da Síria está correto (in:  Doane, Doris Chase, "Accurate World Horoscopes"), seu Sol está a 5°32' de Libra, ou seja, sofrerá uma quadratura de Plutão iniciando-se em 29 de setembro próximo e encerrando-se em 21 de fevereiro vindouro (órbita de 1°), com dois clímaxes, o primeiro em 25 de outubro e o segundo em 30 de janeiro.  Difícil não esperar uma profunda alteração das relações de poder nesse país.  Quem viver, verá.

terça-feira, julho 17, 2012

SÍRIA: O "TURNING POINT"?

O noticiário BBC World News de hoje, 17/07/2012, às 08:00 (hora de Brasília), afirma que o atual nível de conflito armado em Damasco, capital da Síria, talvez seja o "turning point" que irá permitir uma ação mais enérgica da ONU para reestabelecer a paz no país. A diferença de dias entre 13 de julho p.p., quando Urano começou a retrogradar e a verdadeira ocorrência desse "turning (ou "tipping") point" irá indicar o "tempo de incubação" necessário para que esse fenômeno astronômico tenha seu efeito astrológico.  Quem viver verá.

segunda-feira, julho 16, 2012

BRASIL, NO ATACADO E NO VAREJO

NO BRASIL, A SOMA DAS VÁRIAS ESPERTEZAS INDIVIDUAIS TEM POR RESULTADO UMA ASSOMBROSA ESTUPIDEZ GLOBAL.

AINDA SOBRE A SÍRIA

Como sabem os que vêm acompanhando minhas previsões sobre a Primavera Árabe, desde abril que tenho exposto minha expectativa de que, em havendo um "tipping point", uma "inversão de sentido", no conflito Sírio, essa inversão ocorreria a partir do dia 13 de julho p.p..  
Têm os fatos recentes relativos a esse conflito sustentado tal previsão?  Na verdade, há alguns sinais de que isso esteja ocorrendo, mas ainda estão envolvidos por muita névoa para que se possa ter uma visão nítida sobre a matéria. 
Que sinais são esses?  Quinta-feira passada, 12 de julho, 200 pessoas morreram no que pareceu ser não exatamente um massacre da população civil por forças do governo ou milícias alinhada com ele, mas um embate violento entre essas forças e membros do Exercíto Sírio de Libertação.  A natureza do conflito levou a Cruz Vermelha Internacional considerá-lo como tipificando uma guerra civil, enquadrando, portanto, seus combatentes às determinações e penalidades da Convenção de Genebra e, mais ainda, permitindo, em princípio, que se invoque o Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, o que permitiria uma ação mais contundente dessa instituição para restaurar a paz.
Bem, quem viver verá...