sexta-feira, outubro 07, 2005

NOTAS FILOSÓFICAS (I): OS DOIS GRANDES TIPOS DE QUALIDADES

É interessante a pouca atenção dada, na classificação das ciências – sendo mais famosa dessas classificações a de Dilthey, que distingue as Naturwissenschaften (= Ciências da Natureza) das Geisteswissenschaften (= Ciências do Espírito) – à diferença entre “qualidades primárias” e “qualidades secundárias”, elencadas as primeiras entre as passíveis de quantificação (por exemplo, peso, altura, temperatura etc.) e as segundas, entre as que não quantificáveis (raiva, tristeza, pena etc.). Essa diferenciação entre qualidades primárias e secundárias – tão fundamental para uma adequada classificação das ciências – merece alguns reparos.
Primeiro, quando se fala em possibilidade, ou não, de quantificar uma qualidade, estamos falando da possibilidade real, em um determinado momento histórico, de o fazer: quem pode afirmar que, em algum momento futuro, não será possível quantificar qualidades atualmente não quantificáveis?
Segundo, a suposta impossibilidade de quantificação não passa de impossibilidade de uma quantificação precisa. Embora não tenhamos condição de dizer se estamos sentindo 20,7 ou 34,5 “psicotrons” de raiva, podemos, perfeitamente, dizer se estamos com “pouca” ou “muita” raiva, com “mais” ou com “menos” raiva.
Por isso, entendo que, em vez de seguir a tradição filosófica de chamar as qualidades primárias de “objetivas” e as segundas de “subjetivas”, seria mais correto opô-las, não segundo a dimensão “objetivo-subjetivo”, mas segundo a dimensão “preciso-impreciso”, deixando claro que ciências como a Psicologia, que trabalham com as qualidades secundárias, podem ser menos precisas, mas não são necessariamente subjetivas.

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