sexta-feira, outubro 07, 2005

NOTAS FILOSÓFICAS (III): O QUE É FILOSOFIA?

Antropologia e História revelam que, desde os albores de sua existência, o ser humano demonstra anseios pelo verdadeiro, pelo bom e pelo belo. Nota-se, contudo, que, em certo ponto da história do pensamento humano – ponto que, na cultura ocidental, pode ser situado por volta do fim do século VII a.C – tal busca apresenta uma derivação fundamental. Insurgindo-se contra a determinação do verdadeiro, do bom e do belo por uma tradição – essencialmente mítica e religiosa – nascem os fiéis de uma nova crença: a de que todo o indivíduo humano é capaz de, mediante reflexão crítica, decidir por si e para si o que é verdadeiro, o que é belo e o que é bom, submetendo a esse juízo crítico inclusive – talvez principalmente – o que lhe oferece a mencionada tradição. Como postura, a filosofia se identifica com a disposição de questionar.
Até o século XVII, todas as produções intelectuais derivadas dessa postura – fossem elas conclusões sobre o movimento dos astros ou sobre a conduta humana ideal – eram incluídas sob o rótulo de filosofia. Nesse especial sentido, Galileu, ao rejeitar, pela força de seu raciocínio, o geocentrismo bíblico estava sendo tão filósofo quanto Sócrates, fundado em idênticos meios, rejeitou a oferta de seus amigos para que fugisse da cicuta.
A partir de Galileu, entretanto, os resultados da aplicação da postura filosófica aos vários setores de investigação humana passaram lentamente a ser arrolados como pertencentes aos diversos ramos do que hoje chamamos de ciência: a matemática, a física, a química, a biologia etc., de forma que, conforme o uso atual, a Filosofia recobre essencialmente os resultados da “postura crítica” às indagações voltadas:
(a) Sobre as condições de validade do conhecimento; e
(b) Sobre a utilização do conhecimento assim validado na orientação ética e estética da vida humana.
Sem os resultados da primeira dessas indagações, a ciência ficaria sem os fundamentos de sua própria validação; sem os da segunda, o homem não seria o dono de seus próprios atos, mas simples marionete do acaso ou mero escravo da tradição.

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