quinta-feira, outubro 20, 2005

SI VIS PACEM, PARA BELLUM

É necessário que sejamos objetivos em relação ao desarmamento. Comecemos por atentar para as terríveis consequências de termos uma população armada: a Suíça é um dos países mais armados do mundo (2 milhões de armas para uma população de 7 milhões de pessoas); as ocorrências de crime por arma de fogo são tão baixas que nem sequer têm valor estatístico (0,6 homicídios por cada 100 mil habitantes).
Nos Estados Unidos, onde há quase uma arma por habitante, o índice de crimes violentos caiu pela metade nos últimos dez anos. O Rio Grande do Sul tem a população mais armada de nosso país - uma arma para cada dez habitantes - e possui uma de nossas menores taxas de homicídio (12 para cada 100 mil habitantes, contra 29 para cada 100 mil no Brasil como um todo).

Agora, vejamos o quanto é importante, para reduzir a violência, desarmar uma população: na Inglaterra, a posse e a venda de armas de calibre superior a 22mm estão proibidas desde 1997; desde então, o número de homicídios aumentou 25% e o de roubos, 20%.

Na Jamaica, a posse por civis de qualquer tipo de arma de fogo ou munição foi proibida desde 1974: o índice de criminalidade continua sendo um dos mais altos do mundo (31 pessoas para cada 100 mil).

Na Austrália, desde 1996, a venda armas automáticas e semi-automáticas está proibida e restringiu-se a concessão de porte de arma: em nada se alterou o índice de criminalidade.

Agora, consideremos a situação no Brasil. Nosso país produz cerca de 200 mil armas por ano; exporta 70% delas; 20% vão para as Forças Armadas; dos 10% restantes - 20 mil armas - aproximadamente 17 mil (cerca de 90%) são adquiridas por empresas de segurança e apenas 3 mil são compradas por pessoas comuns para uso particular.

Pois bem, apoiado no improvável pressuposto de que, no Brasil como um todo, as coisas se passem de forma diversa do que no Rio Grande do Sul, na Suíça, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Jamaica e na Austrália, nosso erário está gastando aproximadamente R$ 300 milhões para preocupar-se com o destino dessas 3 mil armas! E isso não com uma população de 7 milhões de pessoas, como a da Suíça, mas com uma população de 180 milhões de pessoas e que se vê anualmente acrescida de cerca de 10 milhões.

Agora, consideremos Nova York, lugar do mundo em que, numa década, o índice de crimes violentos caiu vertiginosamente. Há pouca dúvida em relação a que o principal fator para tal foi o feroz combate, liderado pelo prefeito Rudolph Giuliani, contra a incompetência e a corrupção policial (de passagem, enquanto nossa polícia esclarece a autoria de um delito, a polícia norte-americana esclarece nove e a britânica 14).

Tudo que foi dito acima nos leva mais uma vez a lamentável conclusão de que vivemos sob a batuta de um governo que, por incompetência ou inapetência, em vez de tomar providências concretas para resolver problemas reais, prefere alocar esforços e recursos financeiros em pirotecnias marqueteiras (que, ao que parece, são fontes privilegiadas do caixa dois petista) para encantar os tolos.

Vide o Fome Zero, vide a defesa da importância de haver um assento brasileiro vitalício no Conselho de Segurança da ONU (passando, entre outras coisas, pelo ridículo e comercialmente prejudicial papel de avalizar, frente a OMC, a hipócrita pretensão da China de ser reconhecida como uma economia de mercado) e vide, agora, a proposta de redução da violência em nosso território (uma violência de nível quase jamaicano: apresentamos o invejável índice de 29 homicídios por cada 100 mil habitantes), não pelo saneamento de nossas forças policiais, mas pelo desarmamento da população civil! Com efeito, vivemos em um circo político onde os palhaços são a platéia.

Para terminar: ouvi, de moradora de uma de nossas favelas, a seguinte pérola: "Doutor, os traficantes lá da favela ficam-se rindo todos quando aparecem aqueles tratores passando em cima de uma porção de armas. E dizem: "Metade daquilo é arma de plástico. As melhores, eles vendem de volta para nós!""

Se for verdade, o que não duvido, esse "detalhe" compõe de forma perfeita o quadro e indica que o "desarmamento" já começou seu serviço: desarmar a população ordeira e renovar o arsenal bélico dos marginais!

Ah, tem outra pérola: segundo essa informante, os traficantes também afirmam que boa parte da "cocaína" queimada é sal! E com a cocaína que foi substituída por sal, o que será que acontece? Segundo esses mesmos traficantes, nossos queridos policiais traficam-na!

Antes do referendo de outubro, perguntemo-nos, portanto: para diminuir a violência, precisamos da ficção de que faremos isso ao negar o acesso a ridículas 3 mil armas aos quase 180 milhões de pessoas que compõem a população ordeira, ou precisamos de um governo disposto a acabar com a corrupção e incompetência de nossa polícia, em vez de um governo que vive de alimentar-se e de tentar alimentar o brasileiro de fantasias?

E a tarefa do povo? A tarefa do povo qual seria? A A TAREFA DO POVO É A DE, como fez Veríssimo - e sem nenhuma arma de fogo - MATAR A VELHINHA DE TAUBATÉ! Milhões e milhões de velhinhas de Taubaté! Aliás, que grande Taubaté é esse nosso Brasil!

Ah, si vis pacem, para bellum significa "se queres a paz, prepara-te para a guerra".

Um comentário:

Unknown disse...

Não sobrou uma unica palavra para inteirar o escrito de Luis Cesar Ebraico, ele foi preciso em apontar a nossa indgnação.